segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Em busca das origens dos desejos


Texto de autoria de Felipe Luckmann publicado originalmente no Portal Angel Loiro.
Em uma de minhas colunas anteriores, fiz uma breve digressão acerca do preconceito com os“afeminados”, comumente presente no mundo gay. Recebi, então, opiniões de caros leitores, que foram uníssonos ao trazerem à tona a questão do desejo. Atentaram para o fato da diferenciação necessária entre preconceito à afeminados e o simples desejo por homens mais “viris”, não necessariamente tendo aí um preconceito quanto aos primeiros.
Este questionamento me levou a refletir especificamente acerca da questão do desejo. Por que alguns gostam de ursos, outros de barbies, outros de bofes machões, outros de bees mais delicadas? O que existe por trás das diferentes preferências e até que ponto elas são imutáveis?Será que, no fundo, por trás de cada preferência, não existe um preconceito?
Ao estudarmos as diferentes correntes teóricas dentro da psicologia, com suas respectivas visões do ser humano, podemos entrever diferentes respostas e maneiras de olhar para o desejo.
Para a psicanálise, a grosso modo, o objeto de desejo no indivíduo adulto seria um substitutivo das figuras parentais. Ou seja, o indivíduo, após ter aberto mão do desejo por seu pai/mãe na infância, redirecionaria sua libido para um objeto fora do âmbito familiar, porém que conserve determinadas características daquelas figuras parentais. Já na concepção do comportamentalismo de Skinner, o desejo seria o resultado de todo o histórico do indivíduo no que se refere em quais situações ele foi reforçado e em quais ele foi punido. Em outras palavras, a interação com determinado objeto de desejo, em algum momento da vida do sujeito, teria sido agradável para ele, e assim sucessivas vezes, reforçando que este interaja mais vezes com o mesmo objeto, a fim de obter a mesma resposta prazerosa novamente. A relação com um outro objeto pode ter sido aversiva sucessivas vezes, fazendo com o sujeito evite tal contato.
Essas são teorias clássicas e sem dúvida alguma, não esgotam o tema. Tão pouco são as únicas que podem explicá-lo. Há ainda, as teorias mais centradas no campo da biologia. Aí as explicações variam dos feromônios à busca por um parceiro aparentemente mais apto à reprodução, seguindo o raciocínio da dita “lei da preservação das espécies”.
Acredito que, o mais importante de tudo, é olhar criticamente as diferentes teorias antes de abraçá-las como verdadeiros dogmas religiosos. Deve-se prestar atenção para o fato de muitas vezes elas imporem um padrão de conduta e normalidade, além de imprimir um caráter determinista ao desejo dos indivíduos. Os GLBT’s sabem muito bem o que estas palavras querem dizer. Mais importante do que encontrar explicações, é respeitar as diferentes formas de manifestar a libido, o desejo, o prazer, o amor, desde que expressas entre pessoas livres e conscientes. Afinal, o desejo deve configurar-se de maneira tão singular e tortuosa em cada indivíduo, que talvez uma explicação universal nunca seja possível.
Para ler outras matéria de Felipe Luckmann acesse o Portal Angel Loiro.



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