A escola de samba Tom Maior, que desfila no Grupo Especial de São Paulo, leva este ano ao Anhembi pela primeira vez em sua história uma ala exclusivamente gay.
O respeito à diversidade sexual não é uma novidade no Carnaval paulistano: desde 1997, a Mocidade Alegre cede espaço a temas relacionados ao universo LGBT; em 2007, a Leandro de Itaquera trouxe como um dos destaques a drag Salete Campari e, bem antes dela, em 2002, a Unidos de Vila Maria escolheu como título para seu samba enredo "Intolerância Não, Viva e Deixe Viver", que deixou a escola em 11º lugar naquele ano.
No próximo dia 13 de fevereiro, sábado de Carnaval, os homossexuais estarão mais uma vez representados na avenida pela Tom Maior. Com seu samba enredo homenageando os 50 anos de Brasília, a escola fundada em 1973 por dissidentes da Camisa Verde e Branco dedicará uma ala ao cantor Ney Matogrosso.
Em entrevista ao site A Capa, o diretor da Tom Maior, Francisco de Assis (acima), de 23 anos, adianta detalhes da homenagem e explica por que a escola decidiu abrir espaço à diversidade sexual. Como garante seu diretor, a escola vem com tudo no Carnaval deste ano e, se depender da energia de seus componentes, ela tem tudo para participar do desfile das campeãs, marcado para 20 de fevereiro. Leia a seguir.
De onde surgiu a ideia do tema deste ano?
A ideia surgiu principalmente pelo fato de Brasília, "O Coração do Brasil", completar em 2010, 50 anos de existência. Queremos mostrar a cidade fora do cenário político, o que é de costume. Mostraremos uma Brasília de grandes ousadias, exuberância natural, capital gastronômica, hoteleira, repleta de festejos populares e principalmente uma cidade mística e misteriosa. Sairemos da ideia da cidade pré-fabricada, idealizada por Oscar Niemayer, Lucio Costa e Burlemax, para uma cidade futurista.
"Nós no Carnaval de São Paulo entendemos que temos em nossas mãos um veículo de disseminação cultural poderoso, em âmbito nacional e internacional e, tomados desta responsabilidade, buscamos sempre valorizar nossa gente, nossa cultura e o nosso país, com a felicidade de fazê-lo cantando e dançando ao ritmo do samba", disse nosso carnavalesco Roberto Szaniecki, que teve passagens em importantes escolas do Rio como Mangueira, Grande Rio, e também por paulistanas como a Gaviões da Fiel e Império de Casa Verde.
Por que homenagear o cantor Ney Matogrosso? Como será feita essa homenagem?
Ney trabalhou, viveu e começou sua grande carreira em Brasília. Com sua banda Secos e Molhados abriu muitos caminhos do rock nacional para inúmeras bandas que hoje fazem parte do cenário musical brasileiro como Legião Urbana e Capital Inicial. Queremos saudar o público paulistano com menções visuais e teatrais das músicas "Homem com H", "Pro dia nascer Feliz", "Vereda Tropical", "Amor Objeto", "Seu tipo", "Por debaixo dos panos", "Promessas demais", entre outras.
Este é o primeiro ano da ala GLS. Como ela será formada e qual é a previsão do número de componentes?
A ala é um presente da escola a todo grupo LGBT. A Tom Maior surgiu nas intermediações de Pinheiros e sempre cultuou o respeito e admiração ao público gay. A escola conta com grande parte da comunidade homossexual e acreditou que no ano de 2010 seria ideal iniciar um trabalho voltado especialmente a eles. A ala será formada por 100 pessoas, gays ou simpatizantes, com a fantasia Ney Matogrosso (à dir.). Lembrando que a fantasia é voltada a componentes masculinos e femininos.
Ainda há fantasias disponíveis? Quanto elas custam? Como as pessoas podem adquiri-las?Grande parte das fantasias já foi vendida. Porém, a escola tratou de produzir mais devido ao grande sucesso. O valor da fantasia é R$ 320, que podem ser divididos em até 3 vezes no cartão. Para os leitores da revista A Capa, a escola preparou um desconto especial. Os interessados deverão entrar em contato com Yara pelo telefone (11) 3494-9040 ou comparecer à sede da escola que fica à rua Sérgio Tomás, 622, na Barra Funda ( terças, quintas e sábados a partir das 21h).
Qual é a importância de uma ala exclusivamente GLS para o Carnaval de São Paulo?
Toda escola de samba tem o dever de priorizar a cultura GLS, que representa uma grande porcentagem dentro do cenário carnavalesco. Grandes nomes gays acrescentaram muito nos desfiles e hoje fizeram dessa festa popular a maior festa mundial. A Tom Maior encontrou uma forma de homenagear esses que muito contribuíram e contribuem para nosso desfile.
Qual é a sua expectativa para o desfile?A Tom Maior deverá entrar na avenida com quase 4 mil componentes. Queremos ir para o desfile das campeãs, por isso nossa escola está trabalhando cada vez mais intensamente para esse Carnaval. Vamos contar com a animação sem igual dos gays para agitar todo sambódromo. Como no vocabulário gay: "Não vamos tombar" para nenhuma escola!